domingo, 8 de fevereiro de 2015

Alemanha é uma caloteira muito maior do que a Grécia

Historicamente falando, a Alemanha é uma caloteira muito maior do que a Grécia

Os perdões da dívida alemã fazem os da dívida grega parecerem anões.





um relatório do própio parlamento alemão
confirma direito da Grécia a reparações
da 2ª guerra mundial


mas a D.  Merkl quer evitar precedente


A falar do passado comum? O ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis (direita) e ministro das Finanças alemão Wolfgang Schaeuble falam à imprensa após as conversas sobre finanças em Berlim na semana passada. Tendo prometido um fim a cinco anos de austeridade, as autoridades gregas estão em busca de apoio para uma nova renegociação da dívida. (Reuters)

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Numa tentativa de se libertar dos grilhões da austeridade que os credores impuseram, o novo governo de esquerda da Grécia acabou por encontrar um ouvido particularmente antipático na Alemanha, o tesoureiro da União Europeia, que diz que de maneira alguma irá perdoar a dívida grega, mesmo que parcialmente.

Essa repreensão da chanceler alemã Angela Merkel é esmagadoramente apoiada pelo eleitorado alemão indignado com o contraste entre os costumes perdulários da Grécia, e a sua propensão para darem o mesmo tratamento às notas fiscais que dão ao lixo electrónico, e a sua própria obsessão com um apertar bem os cordões à bolsa, quer seja a pessoal quer seja a do país.

O que os alemães estão convenientemente a fazer por ignorar é o seu próprio recorde como um dos maiores caloteiros da história das nações.

Na década de 1920, segundo com um proeminente historiador da economia alemã, a Alemanha foi "como a Grécia mas com esteróides." Albrecht Ritschl, professor da London School of Economics e um assessor do Ministro alemão da Economia, diz que a actual prosperidade Alemã foi construída sobre dinheiro emprestado - a maioria americano - dinheiro, que em grande parte não foi pago por ter sido perdoada a dívida.

Porque a Europa teme mais uma Grexit do que um novo resgate

Tudo começou em 1918, quando a Alemanha perdeu a Primeira Guerra Mundial. No acordo de paz que se seguiu, os vencedores exigiram o pagamento de 269 biliões de marcos ou 96.000 toneladas de ouro.

Espelhando sentimentos actuais dos gregos em relação a amortização da dívida e da austeridade forçada, os alemães, após a Primeira Guerra Mundial olharam para as reparações como uma humilhação nacional e rejeitaram a validade desse Tratado de Versalhes.

No entanto eles pagaram. Mas fizeram o seu pagamento, imprimindo cada vez mais dinheiro, o que levou ao tipo de hiperinflação, em que os porta moedas e carteiras passaram a malas para transportar esse dinheiro.

Em 1923, um dólar valia biliões de marcos. Em Berlim, um bilhete de autocarro custava 15 biliões de marcos.

O colapso da economia alemã levou ao fim da República de Weimar e da democracia no país e á ascensão de Adolf Hitler, que prontamente ordenou a suspensão dos pagamentos, assim que se instalou no poder.

O PLANO MARSHALL 


É generalizada a noção de que o desastroso colapso da economia Alemã e o incumprimento do tratado de Versailles que se seguiu, conduziu a Europa directamente à Segunda Guerra Mundial.
Mas, assim que a guerra acabou, com a Alemanha a perder mais uma vez, a lição de Versalhes foi finalmente atendido.
Em vez de punir os alemães, os aliados ocidentais vencedores decidiram ajudá-los a porem-se de pé novamente.

ZONA EURO-GRÉCIA 


Mas ao que parece nem todos os alemães apoiam a austeridade. Apoiantes do partido de esquerda alemã (Die Linke) protestaram em solidariedade com a Grécia às portas do Ministério das Finanças, em Berlim na passada quinta-feira. (Reuters) 



Na época que se seguiu ao final da segunda guerra mundial, a Alemanha foi dividida entre o satélite soviético da Alemanha Oriental comunista e a democracia nascente da Alemanha Ocidental.

A Guerra Fria estava a acender-se, e os aliados queriam ter certeza de que a Europa Ocidental não sucumbiria a Joseph Stalin, como tinha sucumbiu uma década antes a Hitler e seus colaboradores.
O problema, porém, era que a Europa Ocidental estava em ruínas e o seu povo estava a morrer de fome. 

Só existia um possível salvador - os EUA 

Os americanos tinham o dinheiro para ajudar. Eles também tinham um motivo: Tinham sido enredados por duas vezes em guerras na Europa , queriam agora garantir que os seus soldados não atravessariam o Atlântico novamente.

A solução era a de o governo americano conceder aos europeus biliões em crédito para reconstruírem os seus países, mas essa não era uma tarefa política fácil. 

Isso ter sido possível foi devido a um homem notável: General George C. Marshall, brilhante estratega durante a guerra e um secretário de Estado depois dela. Ele convenceu o presidente Harry Truman que toda a Europa se tornaria comunista a menos que Washington a ajuda-se.

Em 1947, o Congresso dos Estados Unidos votou $ 13 biliões em ajuda para aos europeus, uma quantia enorme na época. Um político britânico da altura chamou-lhe "uma tábua de salvação para homens dum naufrágio".

TAMBÉM DEVEM À GRÉCIA


Os alemães obtiveram um empréstimo de 1,45 biliões de dólares desse dinheiro. Eles também foram autorizados a adiar o pagamento, e na verdade nunca o reembolsaram integralmente, dinheiro esse que continua em dívida para com outros países europeus, assim como para os norte-americanos. 

Tomado em linha de conta as dívidas acumuladas após a Primeira Guerra Mundial e o incumprimento da dívida do Plano Marshall, isso faz da Alemanha o maior transgressor da dívida do século 20, diz Ritschl. 

Claro que, pela generosidade do plano Marshall, a Alemanha mereceu mais crédito e flexibilização pela habilidade que demonstrou ao disciplinar o seu povo, o que lhe permitiu recuperar - no que veio a chamar-se milagre económico – muito mais rapidamente do que os seus vizinhos. 

Quanto ao dinheiro que ainda deviam, em 2010, os alemães fizeram um último pagamento de 69.900.000 € para saldarem todas as suas dívidas acumuladas desde as duas guerras mundiais.

Esse pagamento, porém, foi mais simbólico do que real, pois a dívida original foi reduzida várias vezes ao longo das décadas. 


GRÉCIA-ELEIÇÕES 


Apenas um lembrete. O novo primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, depôs flores no mês passado num monumento aos combatentes da resistência mortos pelas forças de ocupação nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. (Reuters) 


Além disso, e de especial relevância para o drama político à volta da crise actual, é que, de acordo com os gregos, a Alemanha nunca reembolsou à Grécia o equivalente a 476 milhões de Reichmarks por um empréstimo sem juros a que a Alemanha nazi os forçou durante a Segunda Guerra Mundial.
Os alemães argumentam que o empréstimo foi coberto pelo montante fixado e negociado que pagaram aos gregos pelos danos da guerra que lhe foi infligida.

Mas se tomarmos em conta as antiguidades gregas que os nazis roubaram à Grécia, a soma total devida pela Alemanha à Grécia é muitíssimo superior.

Esta situação, como tantas outras semelhantes, simboliza a opacidade dos pagamentos das dívidas entre as nações envolvidas em guerras.

O que está claro, porém, é que, adiando os pagamentos e obtendo perdões, os países podem comprar o tempo que lhes permite cumprir as suas obrigações com mais facilidade. 

Isso funcionou a favor dos alemães. E isso provavelmente funcionará também para os Gregos se eles tiveram, agora, a mesma hipótese. 

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Eh, toiro lindo!