domingo, 17 de agosto de 2014

Mid old summer memories



No já muito distante ano de 1975, conhecido como o verão quente de Portugal, percorria eu com um amigo João C., excelente executante de violino, numa intemporal Suzuki, a nacional 125... 


antes de entrarmos em estradas secundárias,que cortavam em direcção à Praia da Luz, pelas terras que mais tarde teriam como destino serem os empreendimentos do clube da Luz, perto da vila piscatória com o mesmo nome, que se tornaria mundialmente famosa devido ao misterioso e ainda hoje por explicar, “desaparecimento” da Madie, a pequena menina inglesa.

O Sol já ia alto e o calor típico do verão algarvio fazia-se sentir, apesar de atenuado pela deslocação da Suzzuki conduzida pelo meu amigo e companheiro de psicadélicas e fantásticas aventuras.

eu em 1975

À nossa volta o azul e verde da paisagem impoluta, ainda virgem, fazia com que sentíssemos a vida a transbordar dos nossos 19 anos.

Longe da capital, alheios ao “caso republica” e ao desenrolar das lutas partidárias pelo poder, que ainda, ingenuamente, os cidadãos, debaixo da emoção duma liberdade recem adquirida, imaginavam serem "dançadas"em seu nome...

...para nós esse verão estava também a ser um verão quente mas pelos melhores motivos.

Percorríamos a parte mais ocidental da costa do barlavento algarvio, à procura de Hushie, uma linda morena holandesa de Leiden, que eu tinha conhecido e por quem me tinha enamorado um mês antes em Albufeira, quando lá estivera uns dias acampado com uns amigos.

Tivera que voltar a Lisboa mas agora estava de volta e procurava-a.

A minha linda namorada de olhos avelã, que tinha viajado numa renault 4 L desde a Holanda, devia encontrar-se algures entre a Aldeia da Luz e a Praia da Salema, provavelmente no Burgau, pois tinha sido o local que eu preferencialmente lhe tinha sugerido como o mais agradável.

..."Naquele tempo não existiam ainda telemóveis, e tudo era combinado à moda antiga, como respeitar o combinado, deixar recados em pontos chave e usar o bon senso.

Nesse tempo, as "redes sociais" eram circulos de amigos e na “irmandade” mais ou menos hippie todos tínhamos um sentido de união e de entre-ajuda, que quase sempre fazia com que tudo fosse realizável e bem sucedido.


Por outro lado ainda não se tinha dado a massificação do turismo no Algarve, nem a construção desenfreada  e anárquicamente não planeada 
(os patos bravos estavam ainda em formação) que viria mais tarde a descaracterizá-lo e por fim,  a banalizá-lo para sempre.

As localidades e as populações eram então realmente ainda muito primitivas, o que dava ao Idílico Algarve um pano de fundo de viagenm no tempo, que era muito agradável e pitoresvo.


Ainda estava por ESTRAGAR!
Por outras palavras o Algarve era um verdadeiro paraíso, e assim foi descrito por muitas personalidades que por ele também se deixaram “enfeitiçar”.


Com um clima admirável, praias selvagens e desertas, águas cristalinas e um povo pacato e afável que não tinha ainda aprendido a falar nem Inglês nem qualquer outra língua para além do seu próprio 
léxico; o Algarve era ainda, a meio dos anos 70, uma região abençoada por Deus e bonita por Natureza.


Lembro-me, por exemplo, que na localidade de Olhos-de-Água, existia um rio subterrâneo (hoje seco devido à exploração exaustiva dos recursos aquiferos) que desaguava já dentro do oceano, perto da praia, a uma profundidade de poucos metros, e cujo caudal provocava umas bolhas grandes bem visíveis à superfície, os ditos Olhos-de-Água que deram o nome à praia e ao local.

Era possível mergulhar até ao fundo e sentir a nascente, o que eu comprovei, e a água era doce e potável"...

De repente, depois duma curva na estrada de terra batida, no meio duma várzea verdejante, deparamos com quatro ou cinco vacas que pastavam. Não muito longe, numa grande pedra, que lhe servia de espreguiçadeira, ou trono, uma rapariga estava sentada.

Fiz sinal ao João para que parasse a moto e desmontámos.

Dirigimo-nos para ela.

A rapariga, afinal era uma jovem pastora à séria, com flauta e tudo, que guardava os enormes ruminantes naquele aprazivel local, e para mais  acentuar a excepcionalidade do local, encontrava-se, semi-vestida (ou despida?) a gozar o prazer do Sol e do ar, visto que, ninguém, ou rarissimas pessoas, por ali passavam.

Não se atrapalhou com a nossa intromissão, mas cobriu os seios com a sua roupa. Tinha um sorriso lindo. Parecia uma fada e para nós, era como se o fosse. Disse-nos que estavam uns quantos, poucos, estrangeiros, junto à praia. Despedimo-nos e partimos.

Realmente a Hushie encontrava-se no Burgau. Reconheci de imediato a sua Renault 4 L.

A festa do reencontro prolongou-se todo o dia e seguiu noite dentro, com banhos no mar, guitarradas acompanhadas ao violino,(ainda não tinham sido inventados os walkman e muito menos os mp3)...muito vinho, cerveja e shiloms, tudo à luz das estrelas numa celebração de amor, amizade e paz total, como se o planeta tivesse acabado de ser criado para nós.

Quando agora olho para traz, esse verão parecia ir durar para sempre,
e se eu pudesse escolher, gostaria de lá poder voltar.
Esse foi o melhor verão da minha vida.