domingo, 25 de agosto de 2013

Campo de Ourique

é um dos bairros com mais “atmosfera” em Lisboa e é certamente o bairro de Lisboa com a personalidade mais interessante.

Campo de Ourique é o bairro que todos os outros gostariam de ser

Não nasci no bairro mas por lá ter vivido todos os anos 80 e boa parte dos 90, apaixonei-me irremediavelmente por Campo de Ourique.
esplanada no Jardim da Parada

Apesar de já lá não viver, continua a ser o meu bairro. É lá que gosto de fazer as minhas compras, beber uma bica, tomar a minha imperial, comprar jornais, visitar livrarias, conversar, jantar…



É uma das sete colinas de Lisboa:
é aquela que é um planalto.

Campo de Ourique com o rio Tejo em fundo

Com muita vida, agradável de se visitar, pois, por ser plano, percorre-se de lés a lés, com facilidade embora possa demorar mais do que o esperado, devido aos muitos locais interessantes.


Lá, “acontece” cultura, vive-se cultura, pois transbordante de vida, assume-se como uma das mais interessantes zonas comerciais de Lisboa e uma das poucas que conseguiu sobreviver ao fenómeno das grandes superfícies comerciais, pois, aí ainda se encontra um comércio palpitante que nos oferece variedade, qualidade, exclusividade e sempre um cordial e personalizado bom atendimento.


R. Tomás da Anunciação

A aldeia dentro da cidade:
Um bairro que ainda se mantém popular e que já é moderno.

Podemos comprovar esta modernidade na Loja Chocolate e Gengibre que alia a moda à arte abstracta num conceito inovador, onde lado a lado com as colecções que a simpática e talentosa Rosarinho Guerra ( natural do bairro) selecciona, para todas as mulheres poderem realçar os seus encantos naturais, o artista plástico Dumoc (ex residente) apresenta as suas criações abstractas em telas coloridas e vibrantes que decoram com sofisticação e leveza o espaço e muitas livingrooms duma elite vanguardista.


apartamentos de luxo em construção 
no novo edifício do emblemático Cinema Europa

A face popular de Campo de Ourique , está mesmo à vista e descobre-se em cada esquina:

Em Campo de Ourique a gastronomia é visível nos múltiplos e excelentes restaurantes, pastelarias, mercados, mercearias, charcutarias…é uma área na qual o bairro sempre foi rico, mas em que nos últimos anos se apurou ainda mais.

arte nova na pastelaria Tentadora

É um bairro onde se come muito bem e é visto pelos lisboetas e pelos turistas como um local onde é muito agradável passar umas horas de “qualidade” como por exemplo no Café Restaurante RUACANÁ, fundado em 1956 e baptizado pelas influências africanas da época com o mesmo nome das muito belas quedas de água em Angola.

Foi nas caves deste estabelecimento, durante o Estado Novo, muitos dos que lutaram contra o seu derrube, na clandestinidade aí se reuniram  e guardaram os panfletos e as  literaturas contra o regime, que eram impressas na Livraria Ler, situada do outro lado do Jardim da Parada.

Dumoc na esplanada do café Ruacaná



A outra face de Campo de Ourique, mais reservada, mais peculiar, só se dá a conhecer a quem por lá anda com olhar atento:

Campo de Ourique esteve fortemente ligado às ideias liberais, não fossem algumas das suas ruas, homenagens a personalidades ligadas à revolução de 1820, como Ferreira Borges, Correia Teles e Saraiva de Carvalho e de ter sido a partir desta última que, finalmente culminou na implantação da Republica em 1910

Foram talvez estas estirpes agitadoras e republicanas que uniram, apesar da sua diferença de classes, operários e burgueses e que deram o mote a Campo de Ourique, para crescer pejado de personalidade.

estátua de Maria da Fonte 
(jardim da Parada)

História:
Na origem, Campo de Ourique era apenas uma encosta ventosa para onde vão viver os operários das inúmeras fábricas de Alcântara.

operários numa fábrica em Alcântara

Até ao século XVIII o bairro não fazia parte do centro de Lisboa. Quando a primeira freguesia surgiu, a de Santa Isabel, era composta por conventos e quintas. Mais tarde o liberalismo extinguiu os conventos.

ribeira de Alcântara actual Av. Ceuta.

Campo de Ourique foi uma zona de grandes ideais liberais, o que é comprovado ainda hoje pelos nomes das ruas e avenidas relativos a homens ligados a revolução de 1820, como Ferreira Borges, Correia Teles e Saraiva Carvalho.

Campo de Ourique foi, desde sempre, uma zona de grandes tradições revolucionárias e republicanas que uniam operários e burgueses, apesar da diferença de classes.


Foi nas ruas do bairro que germinou a implantação da Republica 
a 5 de Outubro de1910.

José Relvas Proclama a Republica 
5 Outubro 1910

O início do século XX é uma época de grande prosperidade que se iniciado com a política de Fontes Pereira de Melo no fim do século XIX.
Campo de Ourique é uma das sete colinas de Lisboa, mas é aquela que é plana e é aí que é Traçado o vasto xadrez geométrico que constituirá o bairro, para o qual afluiu um estrato social médio-burguês, movido pelo prestígio que rodeavam os novos espaços urbanizados.





O ideário burguês determinava comportamentos e situações.
Hoje o bairro ainda mantém esses traços.



Rés Vês Campo de Ourique
Existe um factor que esteve na origem desta expressão, que significa escapar por milagre, e ainda dois outros que mais tarde o vieram reforçar e dar à expressão a popularidade que hoje tem.

Factor de origem - No terramoto que atingiu Lisboa em 1755 os 35 arcos do Aqueduto das Águas Livres sobreviveram sem fracturas por
ficarem situados na junção de duas placas do Cretácio Superior, no limite de uma falha sísmica, a de Campo de Ourique.

Aqueduto das Águas Livres

Os outros dois factores que a reforçam:
1º – No traçado urbano da Lisboa oitocentista, a circunvalação que traçava os limites da cidade passava no próprio bairro de Campo de Ourique na rua Maria Pia pelo que o bairro era considerado, à justa, uma parte de Lisboa.

Rua Maria Pia
(rua da circunvalação foi a 1ª circular de Lisboa)

2º - Dz-se também que foi com o eléctrico 24 que fazia o percurso entre os prazeres e o largo do Carmo que esta expressão se tornou ainda mais popular. A Razão de tal popularidade deve-se ao facto do eléctrico quase roçar a esquina da Real Panificação (em Campo de Ourique) pois colocando a mão fora da janela podia-se tocar no edifício: o eléctrico passava mesmo à Justa ou seja Rés vés Campo de Ourique.

Real Panificação de Campo de Ourique 
 Carreira 28 (Prazeres / Graça)
ainda em circulação
é uma autentica atracção turistica