segunda-feira, 15 de setembro de 2014

As Particulas Elementares I


A competição económica, metáfora de apropriação do espaço, deixa de ter razão de ser numa sociedade rica, onde os fluxos económicos foram já dominados.

A competição sexual, metáfora em termos de procriação da apropriação do tempo, deixa de ter razão de ser numa sociedade na qual a dissociação, 
sexo–procriação foi perfeitamente realizada.

O sexo uma vez dissociado da procriação, subsiste menos como principio de prazer do que como principio de diferenciação narcísica.




O mesmo se passa com o desejo das riquezas.

Porque é que o modelo da social-democracia sueca, nunca conseguiu prevalecer sobre o modelo liberal?

Porque é que nunca chegou sequer a ser experimentado no domínio da satisfação sexual?

Porque a mutação metafísica operada pela ciência moderna traz na sua esteira a individualização, a vaidade o ódio e o desejo.

Em si o desejo – ao contrário do prazer – é fonte de sofrimento de ódio e de infelicidade.

Isso, todos os filósofos – não só os Budistas, não só os Cristãos, mas todos os filósofos dignos desse nome, o souberam e ensinaram.

A solução dos Utopistas, de Platão a Huxley, passando por Fourrier,
consiste em extinguir o desejo e o sofrimento a ele associado por meio da organização da satisfação imediata.

Em contra-partida a sociedade erótico-publicitária em que vivemos, ocupa-se a organizar o desejo em proporções inéditas ao mesmo tempo que mantem a satisfação no domínio da esfera privada.

SATISFACTION (I can get no)


Para que a sociedade funcione, para que a competição continue é preciso que o desejo cresça, alastre e devore a vida dos Homens.

Existem correctivos, pequenos correctivos humanistas, coisas que permitem fazer esquecer a morte.

No Admirável Mundo Novo, são os ansiolíticos e os anti-depressivos. 


Na Ilha é sobretudo a meditação, as drogas psicadélicas e alguns vagos elementos da religiosidade hindu.


Na prática hoje as pessoas tentam um bocadinho misturar as duas coisas.


_____________________________


Julian Huxley aborda também a questão religiosa, em O QUE NOS ATREVEMOS A PENSAR (1931), nitidamente consciente que os progressos da ciência e do materialismo sapam as bases das religiões tradicionais.



Mas existe igualmente a consciência que nenhuma sociedade pode existir sem religião.
Hoje tenta-se lançar as bases duma religião que se compatibilize com o estado da ciência, mas nenhuma é muito convincente.

Também não se pode dizer que a evolução das nossas sociedades tenha ido muito nesse sentido.

Na realidade toda a esperança de fusão foi aniquilada pela evidência da morte material.

A vaidade e a crueldade não podem deixar de alastrar.

_____________________________


A título de compensação, concluo estranhamente,

 pode dizer-se o mesmo do AMOR