terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Afinal o que importa

Afinal o que importa não é a literatura

nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante

— ele há tanta maneira de compor uma estante!

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao
precipício

e cair verticalmente no vício

Não é verdade, rapaz? E amanhã há bola

antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome

Porque assim como assim ainda há muita gente que come
Que afinal o que importa é não ter medo

de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:

Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo

à saída da pastelaria, e lá fora — ah, lá fora! — rir de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra



Mário Cesariny