A competição económica, metáfora de apropriação do espaço, deixa de ter razão de ser numa sociedade rica, onde os fluxos económicos foram já dominados.
A competição sexual, metáfora em termos de procriação da apropriação do tempo, deixa de ter razão de ser numa sociedade na qual a dissociação, sexo–procriação foi perfeitamente realizada.
O sexo uma vez dissociado da procriação, subsiste menos como principio de prazer do que como principio de diferenciação narcísica.
O mesmo se passa com o desejo das riquezas.
Porque é que o modelo da social-democracia sueca, nunca conseguiu prevalecer sobre o modelo liberal?
Porque é que nunca chegou sequer a ser experimentado no domínio da satisfação sexual?
Porque a mutação metafísica operada pela ciência moderna traz na sua esteira a individualização, a vaidade o ódio e o desejo.
Em si o desejo – ao contrário do prazer – é fonte de sofrimento de ódio e de infelicidade.
Isso, todos os filósofos – não só os Budistas, não só os Cristãos, mas todos os filósofos dignos desse nome, o souberam e ensinaram.
A solução dos Utopistas, de Platão a Huxley, passando por Fourrier,consiste em extinguir o desejo e o sofrimento a ele associado por meio da organização da satisfação imediata.
Em contra-partida a
sociedade erótico-publicitária em que vivemos, ocupa-se a organizar o desejo em
proporções inéditas ao mesmo tempo que mantem a satisfação no domínio da esfera
privada.
SATISFACTION (I can get
no)
Para que a sociedade funcione, para que a competição continue é preciso que o desejo cresça, alastre e devore a vida dos Homens.
Existem correctivos, pequenos correctivos humanistas, coisas que permitem fazer esquecer a morte.
No Admirável Mundo Novo, são os ansiolíticos e os anti-depressivos.
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Hoje tenta-se lançar as
bases duma religião que se compatibilize com o estado da ciência, mas nenhuma é
muito convincente.
Também não se pode dizer
que a evolução das nossas sociedades tenha ido muito nesse sentido.
Na realidade toda a esperança
de fusão foi aniquilada pela evidência da morte material.
A vaidade e a crueldade
não podem deixar de alastrar.
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A título de compensação,
concluo estranhamente,
Michel Houellebecq
irá a Inteligência Artificial
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