sábado, 5 de julho de 2014

Saudades do Futuro: 2020

Quem de entre vós merece a vida eterna?

 quem a deseja?


«O ciúme e a vontade de procriar têm a mesma origem, que é a dor de ser. 

É a dor de ser que nos leva a procurar o outro, como um paliativo;



temos de ultrapassar esta fase a fim de atingir o estado em que o simples facto de ser constitui em si mesmo um permanente motivo de alegria; em que a intermediação passa a ser apenas um jogo, livremente aceite, não constitutivo do ser.

Numa palavra, devemos alcançar a liberdade de indiferença, condição de possibilidade da serenidade perfeita.»



Com a tecnologia a fazer avanços enormes em áreas como: descodificação do genoma humano, computação digital, nano, criogenia, biologia e a neurologia, pode-se dizer que o conhecimento actual nos pode conduzir à vida eterna que parece estar já ao virar da década.


Acabei de ler um livro de Michel Houellebecq, que deveria ter lido há muito, pois foi editado já em 2005, A possibilidade duma ilha


O livro com humor e ineligência, analisa a sociedade e a moralidade actuais duma forma satírica e inteligente onde o desejo de juventude e dos prazeres que a acompanham estão no centro da sociedade capitalista e consumista global.
Michel Houellebecq


Dele foi realizado um filme (pelo prório Michel Houellebecq) que (ainda) não vi.




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...«A maior parte dos testemunhos confirmam-no: foi de facto a partir desta época que a Igreja Eloimita congregou cada vez mais adeptos e se propagou sem resistência pelo mundo ocidental.

É verdade que os tempos haviam mudado, e que o eloimismo, caminhava de certo modo no encalço do capitalismo consumista – que, erigindo a juventude como valor altamente desejável, destruíra aos poucos o respeito pela tradição e o culto dos antepassados – na medida em que (a tecnologia) prometia a conservação indeterminada desta mesma juventude, e dos prazeres que lhe estavam associados.»



«O Islão, curiosamente, foi um bastião de resistência mais dura. Apoiando-se numa emigração maciça e incessante, a religião muçulmana reforçou-se nos países ocidentais praticamente ao mesmo ritmo que o eloimismo; dirigindo-se em prioridade às populações vindas do Magrebe e da África Negra, nem por isso deixava de ter um sucesso crescente junto dos europeus «de cepa», sucesso este que só podia ser imputado ao seu machismo.

Se, de facto, o abandono do machismo tornara os homens infelizes, nem por isso fizera a felicidade das mulheres.

Eram cada vez mais numerosos os homens e sobretudo as mulheres que sonhavam com um retorno a um sistema em que as mulheres eram pudicas e submissas, e a sua virgindade preservada.


Como é evidente, ao mesmo tempo, a pressão erótica sobre o corpo das raparigas não parava de aumentar»



...« e a expansão do islão só foi possível graças à introdução de uma série de compromissos, sob a influência duma nova geração de imãs que, inspirando-se ao mesmo tempo na tradição católica, nos reality-shows e no sentido do espectáculo dos tele-envagelhistas americanos, elaboraram a pensar no público muçulmano um cenário de vida edificante baseado na conversão e no perdão dos pecados, duas noções que no entanto eram relativamente estranhas à tradição islâmica.»



«No esquema-tipo que se encontra reproduzido por decalque em dezenas de telenovelas geralmente filmadas na Turquia ou no Norte de África, a jovem, para grande consternação dos pais, começa por viver uma existência dissoluta marcada pelo álcool, o consumo de drogas e a liberdade sexual mais desenfreada.»

«Depois, marcada por um acontecimento que desencadeia um choque salutar (um aborto doloroso; o encontro com um jovem muçulmano integro e devoto que estuda engenharia), deixa para trás as tentações do mundo e torna-se uma esposa submissa, casta e velada.» 
«Existia o mesmo esquema sob forma masculina, exibindo desta feita sobretudo rappers, e insistindo mais na delinquência e consumo de drogas duras. Este cenário hipócrita viria a alcançar um sucesso tanto mais retumbante quanto a idade escolhida para a conversão (entre os vinte e dois e os vinte e cinco anos) correspondia bastante bem àquela em que os jovens magrebinos, de uma beleza espectacular durante os anos de adolescência, começavam a engordar e a sentir necessidade dum vestuário mais composto.»

«No espaço de uma ou duas décadas, o Islão, conseguiria, assim assumir na Europa o papel que coubera ao catolicismo durante o seu apogeu: o de uma religião «oficial», organizadora do calendário e das minicerimónias que imprimiam uma cadência à passagem do tempo, de dogmas suficientemente primitivos para estarem ao alcance da maioria conservando uma ambiguidade destinada a seduzir os espíritos mais frágeis, reclamando-se em princípio de uma austeridade moral temível enquanto mantinha , na prática, passerelles susceptíveis de reintegrar qualquer pecador.

Produziu-se o mesmo fenómeno nos Estados Unidos da América, sobretudo a partir da comunidade negra – embora o catolicismo, introduzido pela emigração latino-americana, tivesse conservado durante muito tempo posições mais importantes.

No entanto nada disto podia prolongar-se durante muito tempo, e a recusa de envelhecer, de se arrumar e de se transformar numa gorda mãe de família tocaria por sua vez, alguns anos mais tarde, as populações saídas da imigração»


«O movimento começou, como muitas vezes na história humana, na Palestina, mais precisamente duma súbita recusa das jovens palestinianas que não se dispuseram a reduzir a sua existência à procriação repetida de futuros djihadistas, e do seu desejo de beneficiar da liberdade de costumes que possuíam as suas vizinhas israelitas.»


«Em poucos anos, a mutação, sustentada pela música techno (como a atracção pelo mundo capitalista o fora alguns anos antes pelo rock, e com uma eficácia ainda acrescida pelo uso da Internet) espalhou-se pelo conjunto dos países árabes, que tiveram que enfrentar uma revolta maciça da juventude, e não conseguiram vencê-la, como é evidente.

Tornou-se então perfeitamente claro, aos olhos das populações ocidentais, que os países muçulmanos só tinham sido mantidos na sua fé primitiva pela ignorância e o constrangimento; privados da sua base de apoio, os movimentos islamitas ocidentais desmoronaram-se num ápice.

O eloimismo, por seu lado, estava perfeitamente adaptado à civilização do lazer no seio da qual nascera. Sem impor nenhum constrangimento moral, reduzindo a existência humana às categorias do interesse e do prazer, nem por isso deixava de adoptar a promessa fundamental que fora a de todas as religiões monoteístas: a vitória contra a morte.»


«Erradicando toda a dimensão espiritual ou confusa, limitava simplesmente o alcance dessa vitória, e a natureza da promessa, ao prolongamento ilimitado da vida material, isto é, à satisfação ilimitada dos desejos físicos.»

excertos do livro "A possibilidade duma ilha" de Michel Houellebecq


Filme explicativo do genoma humano


Fontes:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Michel_Houellebecq
http://fr.wikipedia.org/wiki/La_Possibilit%C3%A9_d'une_%C3%AEle

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poderá gostar também de:
“The Georgia Guidestones” 







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