sábado, 21 de fevereiro de 2015

REALIDADE EXPLICADA AOS SUBSERVIENTES

Quando a crise do euro começou há cinco anos atrás, os economistas keynesianos previram que a austeridade que estava a ser imposta à Grécia e aos outros países em crise seria um fracasso.

Estrangularia o crescimento e aumentaria o desemprego - e iria até mesmo falhar quando A redução do rácio da dívida em relação ao PIB.

Outros - na Comissão Europeia, presidida pelo tristemente infame e ignaro Durão Barroso, o Banco Central Europeu, e algumas universidades – falaram de contracções expansionistas (?). 

Mas até o Fundo Monetário Internacional disse que as contracções, como cortes na despesa pública, eram apenas isso mesmo: contracções.
NÃO SÃO PRECISOS MAIS TESTES


A austeridade falhou repetidamente desde a sua primeira aplicação com o presidente americano Herbert Hoover, que converteu o crash da bolsa na Grande Depressão, até aos "programas" impostos pelo FMI na Ásia e na América Latina nas últimas décadas. 



E, no entanto, quando a Grécia começou a ter problemas, a austeridade foi de novo tentada.


A Grécia tem largamente cumprido com o que foi estabelecido pela "troika" (Comissão Europeia, BCE e FMI): converteu um défice orçamental primário num superávit primário.

Mas a contracção do consumo privado foi, como era esperado, enorme, devastando 25 por cento nos postos de trabalho, uma queda de 22 por cento do PIB desde 2009, e um aumento da relação dívida - PIB de 35 por cento.


E agora, com a vitória eleitoral esmagadora de anti-austeridade pelo partido Syriza, os eleitores gregos disseram que já tiveram mais do que o suficiente de austeridade..


Então o que fazer? Em primeiro lugar, vamos ser claros: nós poderíamos culpar a Grécia pelos seus problemas, se a Grécia fosse o único país onde a medicina da troika tivesse falhado miseravelmente. 

Mas a Espanha tinha um superávit e um rácio de dívida relativamente baixo antes da crise, e terminou em depressão. O que é necessário não é tanto reformas estruturais na Grécia e na Espanha, mas uma reforma estrutural do projecto da zona do euro e fundamentalmente um repensar das orientações políticas que conduziram a este mau comportamento da união monetária.


A Grécia veio recordar-nos também, mais uma vez, que o mundo precisa duma reestruturação da dívida. Uma dívida excessiva causou não só a crise de 2008, mas também a crise asiática nos anos 90 e a crise na América Latina na década dos anos 80.

Continua a causar um sofrimento indescritível nos EUA, onde milhões de proprietários de imóveis perderam as suas casas, e agora está ameaçando mais milhões na Polónia e onde quer que se tenha contraído empréstimos em francos suíços.

Dada a quantidade de angústia causada pelo endividamento excessivo, pode-se perguntar por que as pessoas e os países são repetidamente colocados nesta situação.

Afinal de contas, essas dívidas são contratos - ou seja, acordos voluntários – pelo que os credores são tão responsáveis ​​por eles como o são os devedores.

Na verdade, pode-se dizer que os credores são mais responsáveis: geralmente, são instituições financeiras sofisticadas, enquanto os mutuários são muitas vezes menos familiarizados com as vicissitudes do mercado e os riscos associados a diferentes arranjos contratuais.

Na verdade, sabemos que os bancos norte-americanos, para caçar os seus mutuários, foram-se aproveitando da sua falta de sofisticação financeira.

Todos os países (evoluídos) já perceberam que para o capitalismo funcionar, é preciso dar uma segunda hipótese às pessoas.


Mandar para a cadeia os devedores no século XIX foi um fracasso – algo desumano, que não ajudou propriamente a pagar as dívidas. O que ajudou foi criar melhores incentivos para as boas práticas de concessão de empréstimos por parte dos credores tornando-os mais responsáveis ​​pelas consequências das suas decisões.

Internacionalmente, ainda não se criou um processo organizado que dê aos países uma nova oportunidade. Ainda mesmo antes da crise de 2008, a Organização das Nações Unidas, com o apoio de quase todos os países em desenvolvimento e emergentes, vem a tentar criar um quadro deste tipo.


A ideia de reabrir prisões para devedores pode parecer estranha, mas o seu eco ressoa quando se fala de risco moral e da responsabilidade de saldar as dívidas.

Existem temores de que, se, se permitir que a Grécia reestruture a sua dívida, que isso venha simplesmente a levar outros países a entrar em apuros, como anteriormente aconteceu à Grécia.

É um absurdo. Alguém no seu perfeito estado de espírito acredita que algum país estaria disposto a passar por aquilo que a Grécia tem passado, apenas para se livrar dos seus credores?

Se existir um risco moral é pela parte dos prestamistas - especialmente no sector privado - que foram resgatados repetidamente.


Se a Europa tem permitido que essas dívidas passem do sector privado para o sector público - um padrão bem estabelecido na última metade do século - é a Europa, e não a Grécia, que deve arcar com as consequências.

Na verdade, a situação actual da Grécia, incluindo o enorme aumento do rácio da dívida é em grande parte culpa dos programas errados impostos pela troika.

Portanto, não é a reestruturação da dívida, mas a ausência desta reestruturação, que é "imoral".

Não há nada de especial sobre os dilemas que a Grécia enfrenta hoje; muitos países têm estado nesta mesma situação.

O que faz com que os problemas da Grécia sejam mais difíceis de resolver é a Grécia estar inserida na estrutura da área do euro, a união monetária implica que os Estados-Membros não possam desvalorizar a sua moeda para superarem os seus problemas, e ainda não existe nenhum vestígio dum mínimo de solidariedade por parte da Europa que acompanhe esta perda de flexibilidade política.
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Setenta anos atrás, no final da II Guerra Mundial, os Aliados acordaram entre si que a Alemanha tinha de se erguer novamente.



Entendia-se que a ascensão de Hitler tinha muito a ver com o desemprego (sem inflação e com deflação), o que resultou da imposição de mais dívida na Alemanha no final da Primeira Guerra Mundial.


Os Aliados não consideraram a estupidez com que as dívidas se tinham acumulado nem tomaram em conta os custos que a Alemanha tinha imposto aos outros países.

Em vez disso, eles não só lhe perdoaram as dívidas; na verdade, eles forneceram apoio, e as tropas aliadas estacionadas na Alemanha foram um estímulo fiscal adicional.

Quando as empresas falham, uma troca da dívida por capital próprio (acções) é uma solução justa e eficiente.

Uma abordagem semelhante para a Grécia passa por converter as suas obrigações actuais por títulos obrigacionistas indexados à evolução do seu PIB.

Se a Grécia prosperar, os seus credores receberão mais dinheiro; Se não, eles irão receber menos. Ambas as partes teriam um forte incentivo para implementar políticas pró crescimento.


Raramente eleições democráticas transmitem uma mensagem tão clara como a que aconteceu na Grécia.

Se a Europa diz não à escolha dos eleitores gregos que pedem uma mudança de rumo, ela está a dizer que a democracia não é importante, pelo menos quando se trata de economia.

Por que não tentar algo como o New Deal como foi feito nos EUA quando não foi mais possível satisfazer os pagamentos antes da Segunda Guerra Mundial?



Espera-se daqueles que entendem os mecanismos económicos da dívida e que impõem a austeridade, que eles acreditem na democracia e nos valores humanos.

Está, para ver se assim realmente é.

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Project Syndicate Este artigo foi publicado originalmente no The Huffington Post, e foi traduzido do Inglês por Dumoc

fontes:
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