Numa radiosa manhã de Maio em 1953, Aldous Huxley tomou pela primeira vez quatro décimos de grama de mescalina (400 mg) dissolvidas em meio copo de água.
Sentou-se e aguardou os seus efeitos. Pouco depois, tudo o que o rodeava se transformou.
Eis a génese de As Portas da Percepção (1954), um dos livros mais inspiradores para a contracultura americana dos anos 60. (os The Doors foram-lhe buscar o nome)
Registo minucioso de alterações sensoriais e ensaio filosófico que aborda os efeitos libertadores desta substância alucinogénica, é uma obra visionária sobre o funcionamento da mente e o desejo de transcendência do ser humano.
O cérebro possui um certo número de sistemas enzimáticos que servem para coordenar o seu funcionamento.
Algumas destas enzimas regulam o fornecimento de glucose aos neurónios. A mescalina inibe a produção destas enzimas, reduzindo assim a quantidade de glucose disponível para um órgão que precisa constantemente de açúcares.
Quando a mescalina reduz a ração normal de açúcares do cérebro, o que sucede? O número de casos observados até agora é muito reduzido, o que nos impede de formular, para já, uma resposta abrangente. Mas o que sucedeu na maioria dos escassos indivíduos que tomaram mescalina sob supervisão médica pode ser resumido do seguinte modo.
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(1) A capacidade de evocar recordações e de «manter a cabeça no lugar» pouco ou nada é afectada. (Ao ouvir as gravações dos diálogos que mantive sob influência da droga, nada me indica que me mostrasse então mais estúpido do que o sou habitualmente.)
(2) Há uma grande intensificação das impressões visuais, e o olho recupera uma parte da inocência perceptiva da infância, quando a sensação não estava subordinada de forma imediata e automática ao conceito. O interesse no espaço reduz-se e o interesse no tempo toma-se quase nulo.
(3) Embora o intelecto retenha todas as suas faculdades, e embora a percepção seja imensamente melhorada, a força de vontade sofre uma deterioração profunda. Aquele que consome mescalina não vê razões para fazer seja o que for em particular, e considera profundamente desinteressantes a maior parte das causas em nome das quais, em condições
de normalidade, estaria preparado para agir e sofrer. Tais motivações são-lhe completamente indiferentes, pela simples razão de ter coisas melhores em que pensar.
(4) O indivíduo pode experimentar estas coisas melhores «lá fora» (foi o meu caso) ou «cá dentro» ou em ambos os mundos, o interior e o exterior, simultânea ou sucessivamente.
O facto de elas serem efectivamente melhores parece evidente a todos os consumidores de mescalina de fígado são e espírito desanuviado que têm acesso à droga.
Estes efeitos da mescalina são do género que seria de esperar após a administração de uma droga capaz de reduzir a eficiência da válvula redutora cerebral.
Gayatri Mantra
Quando o cérebro se vê privado de açúcares, o ego mal nutrido torna-se
fraco, não se mostra interessado em cumprir as tarefas maçadoras que lhe cabem e perde todo o interesse nas relações espaciais e temporais que tanta importância têm para um organismo apostado em singrar no mundo.
fraco, não se mostra interessado em cumprir as tarefas maçadoras que lhe cabem e perde todo o interesse nas relações espaciais e temporais que tanta importância têm para um organismo apostado em singrar no mundo.
À medida que a Mente sem Limites flúi a pouco e pouco, ultrapassando
a válvula que deixou de ser estanque, muitas e variadas coisas biologicamente inúteis começam a acontecer.
a válvula que deixou de ser estanque, muitas e variadas coisas biologicamente inúteis começam a acontecer.
Nalguns casos, podem ocorrer fenómenos de percepção extra-sensorial.
Outras pessoas descobrem um mundo de beleza visionária.
A outras ainda, é revelado o carácter esplendoroso, o infinito valor e importância da existência nua e crua, do acontecimento puro, não-conceptualizado.
No estádio final de apagamento do ego, sobrevém um «conhecimento obscuro» de que Tudo está em tudo - de que Tudo é, na verdade, cada um.
Isto é o mais próximo, deduzo, que uma mente finita alguma vez pode chegar de «apreender tudo o que está a acontecer em todos os lugares do universo».
excerto de "as portas da percepção" 1953 de Aldous Huxley
ANTÍGONA
ANTÍGONA
"A experiência não é o que acontece com um homem;é o que um homem faz com o que lhe acontece"
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